Escola de Cruz está entre as dez melhores escolas públicas do Brasil

A formação continuada dos professores e a participação dos pais são fatores comuns que podem explicar o bom desempenho das escolas do Ceará na edição de 2023 do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), principal indicador de qualidade da educação do Brasil.

O índice federal, divulgado a cada dois anos, vai de zero a 10. A nota é composta pelo resultado dos estudantes em uma avaliação de português e matemática, além das taxas de aprovação.

Das 21 escolas públicas do país com nota 10 nos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano), 15 são cearenses. O Nordeste abriga as cem melhores escolas públicas do país nessa etapa escolar, e o Ceará concentra a maioria delas.

 Escola municipal Macário José de Farias, em Cruz, no Ceará, que está entre as dez melhores escolas públicas do ensino fundamental no país, segundo o Ideb
 Escola municipal Macário José de Farias, em Cruz, no Ceará, que está entre as dez melhores escolas públicas do ensino fundamental no país, segundo o Ideb

       

"É um conjunto de ações. Não é da noite para o dia. A gente recebe formação continuada para os professores e, para além dos projetos do governo, temos projetos dentro da escola", conta Lidiane Menezes, diretora da escola municipal Macário José de Farias, no distrito de Pitombeiras, em Cruz (235 km de Fortaleza) —um dos colégios nota dez.

A educadora afirma conhecer todos os 342 alunos da escola e todos os 231 familiares responsáveis pelas crianças. Ela vê u m empenho para a participação dos pais no desenvolvimento educacional dos filhos, com metas traçadas em conjunto e compromissos firmados.

"Para mim, o principal diferencial da nossa escola é a parceria com a família. Temos o alinhamento, principalmente, nos anos iniciais. O resultado nos anos finais é bom, mas bem melhor nos inicias", diz.

Na escola, dos 23 alunos do primeiro ano, de seis anos, 14 são considerados leitores de texto.

Apesar do suporte educacional, a maioria dos alunos da instituição de ensino vive em situação de vulnerabilidade, com pais dependentes de auxílios como o Bolsa Família. Há casos de crianças que chegam à escola sem café da manhã ou almoço. "É uma comunidade de pessoas mais pobres. Temos pais que não sabem ler, mas que criaram a cultura de buscar o melhor para os filhos."

Um dos projetos adotados na escola é o Leiturinha, em que os professores, dentro do nível de cada criança, encaminham textos para serem lidos em casa, onde os alunos gravam áudio ou vídeo e enviam para avaliação dos educadores.

Outra iniciativa, a Operação Macário, mede o conhecimento dos alunos sobre as quatro operações da matemática. Há acompanhamento presencial e online. No Vale a Pena Parar para Aprender, os professores tiram um dia do mês para avaliar melhorias de aprendizagem.

Programa de alfabetização na idade certa foi marco

Para Daniela Caldeirinha, vice-presidente de Educação da Fundação Lemann, o Programa Alfabetização na Idade Certa (PAIC), implementado em 2007 com o objetivo de alfabetizar todos os alunos das redes públicas de ensino do estado até os sete anos de idade, foi o marco para o diferencial das escolas cearenses.

"Sabemos que ser alfabetizado na idade adequada, até o segundo ano do ensino fundamental, é essencial para que a criança se desenvolva plenamente e continue sua trajetória escolar com sucesso, além de ser um direito previsto na Base Nacional Comum Curricular", disse. "Essa é uma condição necessária, embora não suficiente, para que as pessoas consigam exercer sua cidadania e seu potencial."

Nesse sentido, segundo Caldeirinha, os números positivos no Ideb do Ceará podem ser atribuídos, em grande parte, ao compromisso que o estado assumiu com a leitura e a escrita de suas crianças.

A Fundação Lemann tem um programa que busca expandir para outros estados a experiência do Ceará na alfabetização.

MS

Michael Soarez - Educação - Folha de São Paulo

Texto Original: Educação - Folha de São Paulo