Queimadas podem afetar a função da anestesia e o resultado da cirurgia. É o que temem os especialistas por trás de um estudo publicado no periódico Anesthesiology, da American Society of Anesthesiologists (ASA). Acontece que a fumaça promovida por esses incêndios florestais contém uma mistura de partículas finas e produtos químicos que, induzem inflamação e diminuem os níveis de antioxidantes.
Segundo os pesquisadores, uma vez inalados, os contaminantes podem entrar no sistema circulatório e danificar o coração, os pulmões e outros órgãos, além de danificar o revestimento dos vasos sanguíneos, causando anormalidades de coagulação e ativando plaquetas e células inflamatórias.
Todos esses fatores levam a maiores taxas de comorbidade entre pacientes submetidos à cirurgia, conforme comentam os pesquisadores. Eles também alertam que a fumaça dos incêndios florestais já é conhecida por piorar doenças cardíacas e pulmonares e resultados de gravidez.
“Em um momento de crescente exposição global, os anestesiologistas precisam estar equipados para gerenciar os potenciais efeitos adversos da exposição à fumaça de incêndios florestais nos resultados perioperatórios [intervalo de tempo desde o momento em que os pacientes cirúrgicos dão entrada no hospital até o retorno para casa]”, diz o estudo.
A conclusão do estudo é que a fumaça dos incêndios florestais representa riscos significativos à saúde, principalmente para pessoas com doenças cardíacas e pulmonares preexistentes, pacientes obesos, bebês e crianças pequenas e outros grupos vulneráveis.
Um estudo anterior — também publicado no periódico Anesthesiology — relatou que, entre crianças pequenas com sintomas semelhantes aos da asma, o risco de eventos respiratórios adversos sob anestesia aumenta durante períodos de má qualidade do ar devido à fumaça de incêndios florestais.
Queimadas afetam o cérebro
A poluição do ar afeta a saúde do nosso cérebro e a função cognitiva, e essa poluição por partículas finas liberada por incêndios florestais é ainda mais tóxica do que a poluição do ar de outras fontes, por causa do alto nível de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs), juntamente com outras partículas neurotóxicas.
Na prática, essas partículas podem atingir o cérebro através do nervo olfatório e passar pela barreira hematoencefálica, levando à inflamação cerebral e ao estresse oxidativo.
A neuroinflamação causada pela fumaça de incêndios florestais pode, por sua vez, aumentar o risco de desenvolver Alzheimer ou Parkinson, conforme pesquisas da Universidades de Washington e Pensilvânia, publicadas na PNAS.
Queimadas e saúde mental
Já um estudo do periódico Journal of Development Economics examinou como a fumaça gerada por incêndios agrícolas afetou universitários em um período de seis anos. Quando houve um aumento significativo de incêndios, as pontuações totais dos alunos caíram em 0,6 pontos em média.
No que diz respeito à saúde mental, pesquisadores acreditam que esse comprometimento cognitivo pode ser um fator de mau humor, e a inflamação cerebral talvez desempenhe um papel na depressão, algo que ainda deve ser investigado.
Um estudo da Universidade de Cambridge sugere que a poluição pode contribuir para o transtorno de bipolaridade, a depressão ou a esquizofrenia.
De qualquer forma, futuros estudos devem ajudar a entender mais a fundo os perigos das queimadas para a saúde física e mental da população.