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Galaxy Z Fold 6: poderoso, mas estagnado

O Galaxy Z Fold 6 é a mais nova versão do smartphone dobrável da Samsung, voltado ao público ultra premium, os com bolsos (muito) fundos, em mais de um sentido. Ele chega em um momento que a fabricante sul-coreana não mais domina a categoria, e parte da culpa é dela própria.

Fato, o Z Fold 6 é poderoso e atraente, mas seu preço altíssimo não é justificado pelas pouquíssimas inovações, quando comparado aos modelos de gerações passadas. E não, os recursos de IA, a buzzword da vez, não são o bastante, até por não serem exclusivos dos modelos mais caros da Samsung.

Afinal, para quem o Galaxy Z Fold 6 apela, e por que a Samsung perdeu o bonde da inovação do mercado que ela própria criou? Eu testei o aparelho por duas semanas, e conto o que achei dele a seguir.


O Galaxy Z Fold 6 foi fornecido pela Samsung em caráter de empréstimo; ele será devolvido à empresa após os testes.

Design

Este será um review com um monte de bodes na sala, o primeiro sendo o design. Salvo modificações pontuais, o Z Fold 6 é quase igual ao Z Fold 5, que já era muito parecido com o Z Fold 4... e isso vai até o Galaxy Fold original, lançado em janeiro de 2020 no Brasil.

A diferença mais notável em relação ao modelo de 2023, é a proporção da tela principal, que sendo 20,9:18, deixou o smartphone quando aberto mais quadrado. De resto, ele segue o form factor de livro, mas desta vez com dobradiças mais resistentes.

Fechado, ele se passa tranquilamente por um smartphone comum, principalmente devido aos cantos retos, tal qual o Galaxy S24 Ultra; apenas chegando perto é possível notar o quão mais espesso ele é.

Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Algumas dessas mudanças, feitas para tornar a navegação com a tela externa mais confortável, foram tomadas para deixar o Galaxy Z Fold 6 mais a par com concorrentes, como o Google Pixel Fold e o OnePlus Open, especialmente o segundo, por motivos que ficarão claros mais para a frente.

O aparelho não possui entrada para cartões de memória, e traz certificação IP48 de resistência a água e elementos estranhos. O botão Liga/Desliga comporta o leitor de impressões digitais, há uma porta USB-C 3.2, o de sempre para um gadget premium.

Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Ainda que este smartphone seja bem parecido com seus antecessores, ele não é exatamente feio, e quem está dentro da linha não terá do que reclamar quanto ao design.

Telas e som

A tela principal recebeu um upgrade significativo no que tange à resistência. O display LTPO AMOLED 2x dobrável, de 7,6"e resolução de 2.160 x 1.856 pixels, conta com uma camada a mais e está não só mais durável, como o vinco interno está bem menos pronunciado, quando olhamos para ela de frente.

Olhando de perfil, e dependendo do reflexo, a marca ainda é bem evidente, assim como ela continua sendo ao toque, mas acredite: com o tempo você se acostuma.

Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

A tela dobrável sempre foi a maior fonte de reclamações dos usuários, desde o primeiro Fold, e convenhamos, parte da culpa foi nossa, um mercado consumidor que exige novidades todos os anos, e os fabricantes reinventando a roda a cada ciclo. O problema, essa "reinvenção" se limita a uma perfumaria aqui, um emoji animado ali... a bola da vez? IA, claro.

Quando o Fold chegou, a Samsung prometeu uma revolução, era a ascensão dos celulares dobráveis, mas as telas morrendo após poucas operações de abre-e-fecha assombra a empresa desde então. A tecnologia melhorou bastante, mas não é perfeita e jamais será, pois uma tela que dobra vai ao encontro do que Arthur C. Clarke definiu, a máquina ideal não pode ter partes móveis, pois elas quebram.

A Samsung melhorou bastante e continua trabalhando para reduzir os problemas do display, e eu consigo viver com isso.

Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Da qualidade do display em si, nada a reclamar. Ele possui brilho forte e boa fidelidade de cores, tons de preto e cinza, como qualquer outro AMOLED premium. O problema, claro, é encontrar conteúdos compatíveis para um formato de tela 20,9:18.

Ironicamente, vídeos em 4:3 ficam muito bem nessa telona; dá para assistir o Snyder Cut, por exemplo, confortavelmente em um Z Fold 6.

Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

A tela externa, também uma LTPO AMOLED 2X, mas com 6,3", 2.376 x 968 pixels e proporção 22,1:9, é mais próxima dos smartphones de hoje, mas eu particularmente a acho um tanto pequena para consumir conteúdo; por outro lado, seu formato é mais próximo de quase tudo o que assistimos hoje. Ela serve como display always on para notificações, mas é perfeitamente usável como tela principal para tudo.

Em comum, ambas telas possuem taxa de atualização de até 120 Hz, que assim como aconteceu com a linha Galaxy Tab S9, não pode ser selecionada diretamente, apenas na opção dinâmica, onde o aparelho decide quando forçar e quando maneirar a mão; framerate fixo, só a 60 Hz.

Já o som é provido por alto-falantes da AKG, com som espacial e compatível com Dolby Atmos, mas só nos fones de ouvido. Há uma boa qualidade de graves e agudos, mas como sempre, o uso dde periféricos é indicado para uma melhor experiência sonora.

Software e extras

O Android 14, customizado pela interface One UI 6.1.1, oferece compatibilidade com a tela dobrável até certo ponto. Vários apps hoje conversam sem problema com o display quadradão da Samsung, ironicamente com mais frequência do que com tablets.

É possível usar submenus, trabalhar com multitarefa com o DeX, plenamente compatível, alguns games suportam a proporção sem problemas... hoje não há mais aquele deserto de conteúdo de 5 anos atrás.

Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Talvez a grande limitação continue sendo vídeos, mas isso não tem o que fazer, quase toda nossa produção hoje segue o formato 16:9 e similares, de novo, é algo com que você se acostuma com o tempo.

A grande bola dentro da Samsung, por sua vez, é a garantia de atualizações de sistema por incríveis 7 anos, afinal, o investimento precisa ser justificado de alguma forma.

IA IA IA IA IA...

Sendo as IAs generativas a grande tecnologia disruptiva que todos correm atrás atualmente, o Galaxy Z Fold 6 não poderia ignorá-la. A API Galaxy AI conversa com diversos apps nativos da Samsung e alguns outros, oferecendo conteúdos em contexto.

Por exemplo, o Portrait Studio transforma retratos em ilustrações, e a Galeria permite mover elementos de lugar, ou introduzir outros através de desenhos, que o algoritmo infere e inclui.

No exemplo abaixo, eu fiz alguns rabiscos despretensiosos para representar um gato, e o Galaxy AI ofereceu 5 opções, uma muito errada, e outras mais próximas. A no post foi o melhor resultado.

Foto original... (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Foto original... (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Um

Um "desenho" aleatório... (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

E o resultado (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

E o resultado (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

É possível também criar resumos com algumas palavras-chave, resumir anotações, traduzir conversas em dois idiomas em tempo real, com o aparelho captando a voz de duas pessoas diferentes... as possibilidades são várias.

O problema? Nada disso é exclusivo do Galaxy Z Fold 6, as soluções do Galaxy AI, e de apps similares, podem ser usadas em outros smartphones da Samsung.

Desempenho e autonomia

SoC Qualcomm Snapdragon 8 Gen 3 for Galaxy, octa-core com clock de até 3,39 GHz, GPU Adreno 750 de 1 GHz, 12 GB de memória RAM, e 512 GB de espaço interno. É um setup poderoso, que não faz feio com tarefas pesadas, multitarefa, e jogos exigentes.

Ele nem suou rodando Asphalt Legends Unite e Genshin Impact em configurações altas, embora um ou outro engasgo mínimo tenha sido notado; em especificações medianas, tudo flui perfeitamente.

Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

A bateria de 4.400 mAh, dividida entre as duas abas do gadget, é a mesma presente no Z Fold 5, e segura em média um dia de uso moderado. Nos meus testes, eu o tirei da tomada às 8:00, rodei duas horas de streaming de vídeo, duas horas de streaming de música, uma hora de games (Asphalt Legends Unite e Genshin Impact, 30 minutos cada), navegação e redes sociais, sempre no 5G e Wi-Fi, com brilho no máximo.

Às 22:00, a bateria marcou 19%, um número dentro do esperado quando você força um pouco a barra. A recarga, provida pelo carregador rápido de 25%, foi de 0% a 50% em 33 minutos (alinhado com a promessa de 30 min), e mais 52 minutos para chegar aos 100%, o que não é nada mal.

Câmeras

Sendo um celular dobrável, temos câmeras a rodo aqui. As principais contam com uma Wide de 50 MP, uma Teleobjetiva de 10 MP e zoom real de 3x, e uma Ultrawide de 12 MP.

Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

A Wide tem uma boa definição, e usa 12 MP como captura padrão. Você pode mudar para 50 MP quando quiser, o algoritmo é bom o bastante para não deixar as fotos pesadas demais, sem sacrificar a qualidade.

O zoom físico de 3x funciona direitinho, mas mais do que isso passa para o digital, sujeito a distorções; de modo geral, as cores são fiéis e há pouco blur nas bordas. Como sempre, smartphones premium vêm com as melhores câmeras.

Foto externa no modo normal, 12 MP (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Foto externa no modo de 50 MP (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Foto externa no modo de 50 MP (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Em fotos internas, o Galaxy Z Fold 6 capta cores fortes e bastante detalhes, dependendo da fonte de luz, mas no geral, você não terá problemas para fotografar suas fotos de comida para postar no Instagram.

Aliás, o aparelho também oferece ajustes de IA para melhorar suas capturas, pensando na rede social de fotos; fica a seu critério.

Foto interna no modo Retrato (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Foto interna no modo Retrato (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

A parte mais interessante, no entanto, é a hora de tirar selfies, já que você pode usar qualquer câmera para isso. A interna de 4 MP, sob a tela dobrável, é bem fraquinha e sofre para pegar detalhes, assim como é terrível para reconhecimento facial; ela conseguiu falhar todas as vezes.

Esta provavelmente será a que você nunca usará para tirar um autorretrato, a qualidade é apenas suficiente.

Selfie usando a câmera interna, 4 MP (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Selfie usando a câmera interna, 4 MP (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

A selfie externa, por sua vez, é acomodada em um notch em forma de furo, e com 10 MP, não apresenta nenhum impedimento com biometria, assim como entrega selfies de maior qualidade. Ela é posicionada como a opção padrão.

Porém, você pode ir além.

Selfie usando a câmera frontal externa, 10 MP (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Selfie usando a câmera frontal externa, 10 MP (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Graças ao formato dobrável, você pode virar as câmeras principais na sua direção, com o dispositivo aberto, e usar a tela externa para capturar uma selfie, usando o sensor Wide em 12 MP ou 50 MP, para máxima qualidade.

Eu acho este um recurso overkill, mas se você já pagou caro pelo aparelho, por que não?

Selfie usando as câmeras principais, 12 MP (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Selfie usando as câmeras principais, 12 MP (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

No mais, é possível gravar vídeos em 8K a até 30 fps, e em 720p na velocidade ultralenta, a 960 fps.

Conclusão

O Galaxy Z Fold 6 é potente, talvez o mais poderoso e inovador smartphone Android disponível no Brasil que o dinheiro pode comprar, mas a Samsung hoje paga o preço de ter sentado em cima dos louros do sucesso, e oferecer poucas inovações relevantes ao longo dos anos. Como resultado, o mercado de dobráveis hoje é dominado por marcas chinesas, como Oppo, Honor, e Huawei, que sequer pode vender o Mate X5 fora do País do Meio de forma legal.

Por que isso aconteceu? Este e outros chineses, e concorrentes do Google e Motorola, em geral oferecem câmeras melhores, corpos mais finos, e o principal, custam menos. Hoje, a Samsung responde por 23% do mercado de dobráveis, quando já chegou a abocanhar 58%; a líder do setor é a Huawei, com 35% (dados de maio de 2024).

A Samsung diz que mira, com as linhas Z Fold e Z Flip, em quem já está dentro do ecossistema, ou seja, não está atraindo consumidores novos, o que se reflete no mercado geral, que cresceu  50% de 2023 para cá, o que é considerado um número modesto.

Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Galaxy Z Fold 6 (Crédito: Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

Claro, quando olhamos para o preço sugerido do Galaxy Z Fold 6 no Brasil, de R$ 13.799, dá para entender por que seus aparelhos dobráveis não vendem tanto mais. Dentro da categoria dobráveis, este e o Z Flip 6 possuem pouca concorrência por aqui, mas os valores não ajudam.

Se você procura um Android de ponta com recursos de IA, talvez o Galaxy S24 Ultra, ou mesmo um top de uma geração atrás, seja o mais indicado caso não queira gastar muito; o Z Fold 6 faz sentido se você realmente, definitivamente, precisa de um celular que dobra no bolso, e estiver disposto a sangrar a carteira por ele.

Galaxy Z Fold 6 — Ficha Técnica

  • Processador: Qualcomm Snapdragon 8 Gen 3 for Galaxy (4 nm), octa-core com 1 núcleo Cortex-X4 de 3,39 GHz, 2 Cortex-A720 de 3,1 GHz, 2 Cortex-A720 de 2,9 GHz, e 2 Cortex-A520 de 2,2 GHz;
  • GPU: Adreno 750 (1 GHz);
  • Memória RAM: 12 GB;
  • Armazenamento interno: 512 GB;
  • Armazenamento externo: não expansível;
  • Tela interna: Dynamic LTPO AMOLED 2X dobrável de 7,6 polegadas;
  • Resolução: 2.160 x 1.856 pixels (proporção 20,9:18, ~374 ppi);
  • Taxa de atualização: até 120 Hz (ajuste dinâmico);
  • Tela externa: Dynamic LTPO AMOLED 2X de 6,3 polegadas;
  • Resolução: 2.376 x 968 pixels (proporção 22,1:9, ~410 ppi);
  • Taxa de atualização: até 120 Hz (ajuste dinâmico);
  • Câmera traseira: Conjunto triplo:
    • Principal (Wide): 50 megapixels, abertura f/1,8;
    • Teleobjetiva: 10 megapixels, abertura f/2,4, zoom óptico de 3x;
    • Ultrawide: 12 megapixels, abertura f/2,2;
    • PDAF, OIS, Flash LED, HDR, HDR+, grava vídeos em 8K a 30 fps, 4K a até 60 fps, 1080p a até 240 fps, 720p a 960 fps;
  • Câmera selfie interna: 4 megapixels, abertura f/1,8, disposta sob o display;
  • Câmera selfie externa: 10 megapixels, abertura f/2,2;
    • HDR, gravam vídeos em 4K e 1080p a até 60 fps;
  • Sensores: Proximidade, acelerômetro, giroscópio, bússola, leitor de digitais no botão Liga/Desliga;
  • Recursos extras: DeX, Bixby, Galaxy AI;
  • Conectividade: 5G, Wi-Fi 6E, Bluetooth 5.3, GPS, GLONASS, BDS, GALILEO, QZSS;
  • Bateria: 4.400 mAh (2x 2.200 mAh), com suporte a carregamento ultrarrápido de 25 W;
  • Portas: USB 3.2 Type-C;
  • Sistema operacional: Android 14 com One UI 6.1.1;
  • Dimensões: 153,5 x 132,6 x 5,6 mm (aberto), 153,5 x 68,1 x 12,1 mm (dobrado);
  • Peso: 239 g;
  • Cores: Cinza, Azul, Preto (exclusiva loja Samsung).

Pontos fortes:

  • Displays de alta qualidade;
  • Vinco da tela interna é bem mais discreto;
  • Desempenho de sobra;
  • 7 anos de atualizações do Android garantidas pela Samsung.

Pontos fracos:

  • Sim, é caro. MUITO caro;
  • Inovações em software e IA não são exclusivas;
  • Quase nenhuma novidade relevante em hardware, há anos.


RG

Ronaldo Gogoni - Meio Bit

Texto Original: Meio Bit